quarta-feira, 7 de outubro de 2009

OLHEM PARA MIM E FAÇAM ALGUMA COISA!!!




Floresta – PE, 07 de outubro de 2009.


Senhores Vereadores
Senhores Vereadores da Câmara Municipal de Floresta
Casa Benício Ferraz


Sou a Professora Carla Rogéria Rosa Ferraz, pernambucana e natural da cidade de Floresta, município jurisdicionado a Gerência Regional de Educação do Sertão do Submédio do São Francisco. Localizada na Escola Deputado Afonso Ferraz, integro a Rede Estadual de Ensino através de concurso público para a docência no Curso Normal Médio – Disciplinas Pedagógicas. No leque de outras experiências, durante vinte anos integrei a Rede Municipal de Ensino de Floresta, atuando na Educação Infantil, no Ensino Fundamental, na Educação de Jovens e Adultos, na condição de Supervisora Pedagógica do Campo. Ainda na mesma esfera, fui a primeira Gestora da Escola Municipal Joaquim Salvador de Souza Ferraz – única, no Estado de Pernambuco, em área de Reforma Agrária, a oferecer o Ensino Fundamental em nove anos. E numa iniciativa ousada do então Prefeito Afonso Augusto Ferraz, em 2005 a implantação do Ensino Médio.
Licenciada em Pedagogia e Especialista em Psicopedagogia, busco condições favoráveis para a continuidade da formação acadêmica na perspectiva de outras Especializações, Mestrado e Doutorado, quem sabe.
Não é excessivo confirmar o processo de educação formal, que se dá no interior das instituições escolares, como real possibilidade de (re) organização da sociedade, (re) pensar das práticas sociais, (re) estruturação planetária. Eis que permaneço acreditando no homem e na capacidade dinâmica de transformação. Eis que atuo, prazerosamente, na educação.
Ocupar-se do aluno na condição de sujeito em processo de formação e simultaneamente com ação direta na sociedade, alcança a sensibilidade da responsabilidade social do educador comprometido com a preservação da espécie humana, primando por sua competência de interação e de sobrevivência em grupo e no grupo. Não mais pensamos a formação do sujeito com atuação limitada e restrita ao seu habitat. Projetamos um sujeito novo e com aptidões para atuação num espaço macro – a sociedade planetária.
Essa inquietação maior lança-me a uma reflexão permanente em que pese a proteção, o zelo e a atenção voltada para os instrumentos legais mantenedores da formação escolar do sujeito. E é com outro olhar que devo mirar a “frieza burocrática” dos capítulos, artigos, parágrafos, incisos e outros elementos constituintes das redações legislativas. Mirar e identificar a alma de uma lei que é o seu cumprimento reto e imparcial.
No dinamismo do cotidiano escolar, que nunca é estático, toca-me o coração a dedicação, a determinação, o compromisso, o desejo de vida da aluna Elisandra Zilda de Souza, matriculada na Escola Deputado Afonso Ferraz, no Curso Normal Médio, turma “B”, com funcionamento no horário de 13 h as 17 h e 25’, oportunidade na qual a mesma aluna caminha dois quilômetros para apanhar o transporte escolar e no retorno mais dois quilômetros, sempre conduzindo o seu filho menor. Oriunda do campo, natural da Faz. Pocinhos, atualmente a aluna reside na Faz. Carpina, distante da sede deste município seis quilômetros. Nas manhãs de quartas-feiras a aluna comparece às aulas de Prática Pedagógica oferecidas legalmente no contra turno também conduzindo o seu filho Edson Fernandes da Silva Souza, com idade de seis anos. O seu esposo, ocupado com os labores rurais, permanece no campo e já tem como garantidas as suas refeições básicas que são preparadas às 4 h da madrugada por sua esposa. A mesma aluna que obedece ao natural perfil de aluna mãe, esposa, do campo. Inicialmente, a própria aluna, contratava um moto táxi com recursos próprios (R$ 10,00) garantindo o seu deslocamento, o que passou a ser inviável.
Como mecanismo facilitador da árdua e tripla jornada o transporte escolar, em obediência a legislação de amparo ao estudante, amenizaria os riscos a que se expõe, semanalmente, a aluna. O trajeto de sua casa a escola, nas manhãs de quartas-feiras a aluna toma o formato de uma transeunte da BR 316, em companhia dos carros e de seu filho Edson Fernandes que estuda em uma das Unidades de Ensino de Floresta durante a tarde.
Na manhã de ontem (07.10.09), a aluna Elisandra, em processo de gestação há três meses, externou visivelmente, o seu cansaço, o seu desconforto, o seu esforço, o seu esgotamento, a fragilidade de sua saúde, o grito de socorro: “Olhem para mim e façam alguma coisa!” Mas também deu provas de sua credibilidade na Educação, na Escola Deputado Afonso Ferraz, na aposta de um futuro melhor para si, para sua família. Fomos, seus colegas e eu, testemunhas oculares do mal estar desesperador porque passou a aluna que literalmente, andou a passos muito largos e apressados na investidura de vencer a distância em que se mantém da Escola. Correu para atender ao compromisso de mais um dia letivo. E em sua corrida evidenciou quão significativo, adequado, lógico e justificador fora o show pirotécnico alusivo ao primeiro aniversário da (re) construção de uma Floresta para Todos.
Firmo o apelo de que os Vereadores de Floresta, os mais esclarecidos, os mais conscientes, os mais sensíveis, os legitimamente comprometidos, identifiquem nos instrumentos legais (Constituições Federal, Estadual e Municipal – a Lei Orgânica, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei de Direitos Humanos) quais os dispositivos que garantam os direitos de acesso e permanência do aluno na Escola em Floresta. Creio eu tratar dos mesmos que dizem das obrigações governamentais e na cultura do “Cuidar da Cidade” esquecidos se vão os do campo. Sofre, Elisandra! Sabendo-se de um caso territorialmente municipal, identifiquem as calamidades acometidas ao serviço de transporte escolar e mais que isto, em 05 de outubro de 2008 a aluna Elisandra Zilda outorgou a vocês os seus interesses e ela é cidadã, é gente.
Muito obrigada!

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